Afortunadamente reuniram-se as condições para partir rumo ao Chile. Assim, dia 24 de Setembro despeço-me da minha nova família (agora parece que somos 6 irmãos cá em casa) e sigo sozinho para o aeroporto.
1º Dia
Entro num avião da air canada com uma televisão, ficha para o pc e porta USB para todos os lugares. Aproveito para apreciar uma passagem sobre os Andes onde pude ver intermináveis montanhas cheias de neve... A viagem já estava a começar bem.
Chegado a Santiago vou para casa dos meus óptimos anftriões: Jorge de Mello, Frederico Lupi e Mafalda Espinheira. No caminho de mais de uma hora conheço um Colombiano bem simpático que me fala sobre a Colombia, as FARC e os sítios a não perder nesse seu país. Enfim, dicas para a viagem grande. Seguimos para noite muito internacional com uma jantarada e uma festa com pessoas de todos os cantos do mundo, tudo bem regado com o célebre Pisco. Tanto o Perú como o Chile reclamam a autoria desta bebida mas o que é facto é que é muito traiçoeira. Bebe-se tipo sumo de limão, fresquinho até parece um Smirnoff Ice. O problema é que tem 40º e dá origem a ressacas bastante fortes...
2º Dia
Depois de ter dormido parte da noite no sofá, parte da noite na cama, vou dar uma volta por Santiago. Felizmente os meus anfitriões recomendam-me o cerro de San Cristobal. É um cerro com vista para Santiago e quando cheguei ao cume deparei-me com um santuário onde cantava um coro de crianças. Reina uma paz e um sossego que contrasta fortemente com o movimento incessante da cidade.
Ainda deu para ver a casa do Neruda e deambular pelas ruas daquele bairro. Encontro-me com o Jorge e o Frederico que tinham feito uma passagem pela faculdade e seguimos para aeroporto. Depois de aviões e trasnferes lá chegamos ao tão desejado oásis no meio do deserto: San Pedro de Atacama.
O deserto é o segundo deserto mais seco do mundo, a seguir a um deserto na Antarctida. Algumas estações meteorológicas nunca receberam chuva e alguns vulcões que alcançam mais de 6800 metros nem glaciares têm. As temperaturam oscilam entre os -25ºc de mínima e os 30ºC de máxima sendo que não há grande diferença entre o verão e o inverno.
A maior população da região é San Pedro e segundo o Lonely Planet tem 5000 habitantes, segundo os locais tem 3000 e pelo que nós vimos tem menos de 1000 porque ali reinam os turistas e os backpackers. Faço esta distinção porque hoje em dia parece que "o turista" tem uma conotação bastante negativa que se opõe à do backpacker. Penso que o último tem mais o intuito de visistar os locais mas conhecendo as populações e a cultura tentanto misturar-se o mais possível, tentanto comunicar e aprender com os locais. Não é só por uma cruzinha nas atracções turísticas acabando por só visitar outros turistas mas também explorar os locais mais reconditos e surpreendendo-se em cada esquina. (ás vezes sinto que ao viajar-se, incluindo eu, viaja-se muito à turista e penso que alterando o modo e a atitude perante a viajem todos acabam por ganhar, tanto quem viaja como quem é visitado)
3º Dia
San Pedro está a 2700 metros de altitude e é uma população bastante pequena onde tudo se faz a pé. As ruas são de terra batida, as peredes das casas são feitas de tijolos de barro e os tectos são de colmo. Todos os edifícios têm um só andar e esta população está infestada de agências turisticas que vendem todo o tipo de excursões.
Neste primeiro dia de deserto decidimos alugar umas pranchas de sandboard e uma bicicletas.
Seguimos rumo ao Vale da Morte onde podemos fazer Sandboard para descer as gigantescas dunas de areia mas onde obviamente não há teleféricos para subir.
Depois de uma viajem de bicicleta onde me siau pelo menos meio pulmão pela boca, subo a duna já meio a cambalear debaixo do sol das 2 da tarde (expertos!) e chegando ao topo lá recupero forças... Aí trocamos umas opiniões (de profissional para expert claro!) sobre as técnicas de sandboard com 3 alemãs e 3 estranjas da américa central.
Depois de algumas descidas, trambolhões e corpo dorido lá arrancamos para o Val da Lua. Aí acabamos por pedir boleia a um tour para subir os últimos quilómetros e assistimos a um magnífico pôr do sol. A mistura de cores que se vão alterando à medida que o sol se põe, o silêncio total naquela imnesidão de deserto e o frio que faz os ossos tremer mal o sol se põe faz com que este dia fique para sempre guardado na minha memória...
Depois de um pôr do sol dislumbrante ficou noite muito rapidamente... Deixámos quase todos os turistas irem embora e ficámos para trás com uma chilena e dois franceses. Estavamos no meio do deserto, noite cerrada sem lua e faltavm-nos 20 Kms para chegar a San Pedro. Para além disso estavamos artilhados com as nossas pranchas de sandboard e apenas uma mini lanterna para nos os 6...
Acabou por ser um dos melhores passeios da viagem, onde percorremos todo o trajecto ás escuras sob um manto estrelar como nunca tinha visto. Os 6 de bicicleta, apenas com o barulho das bicicletas e as luzes de San Pedro lá mesmo ao fundo, a aproximarem-se lentamente. Inolvidável... Aterramos na cama depois de quase 50kms em bicicleta, um escaldão à camionista e o corpo todo dorido. Que delicia relembrar este dia enquanto adormeço.
4º Dia
Acordamos às 03h45 para ir ver o nascer do sol aos geysers. Lá chega o Daniel, o nosso guia, e seguimos pelo meio do deserto durante mais de duas horas. Por fim, o céu começa a aclarar e ao fundo avistamos uma planície cheia de fumarolas, o parque geotérmico onde se localizam os famosos geyser. São 122 fumarolas e quanto mais frio está mais imponentes se mostram. O termómetro marca os -13ºC, estas minipiscinas estão a ferver a 85ºC e estamos a mais de 4500metros de altitude. Os nossas mãos tremem incessantemente, as pernas não obedecem e o cérebro não raciocina. Tentamos disfrutar a paisagem mas o frio torna este processo bastante difícil... Finalmente o sol aparece, que maravilha!!! É impressionante a diferença de temperatura só por nos pormos ao sol. Agora sim podemos disfrutar deste paraíso onde estamos, onde se ouvem as entranhas da terra e as fumarolas atingem os 50m de altura. O Daniel aquece-nos um leite com chocolate dentro das fumarolas...
Acabamos todos a tomar banho numas pequenas termas onde as rochas estão a escaldar e a temperatura da água varia enormemente. Disfrutamos assim de um belo banho de água quente com vista para os geysers e para o imponente vulcão.
A caminho de San Pedro ainda damos um salto à povoação mais pequena da região que tem entre 7 e 12 habitantes e nas festas da vila atinge o impressionante numero de 40 pessoas. Todas as casas têm electricidade (paineis solares) e água potável (tem duas nascentes de água).
Depois de uma valente sesta seguimos para o programa da tarde.
Vamos ver uns lagos onde a água é cerca de três vezes mais salgada que o mar,
5º Dia - Lagunas Altiplanicas
Pensávamos que já tinhamos visto o melhor do deserto do Atacama e várias pessoas nos tinham dito que em 2 dias o deserto estava visto. A todas essas pessoas agradeço o apoio e as dicas pois em muito me ajudaram para esta viagem ao deserto mas devo dizer-vos que estão redondamente enganados... Quanto mais dias ficávamos mais tempo queriamos ficar, e a cada dia surgia algo que era tão bom ou melhor que o que já tinhamos visto.
Começamos com uma breve passagem pelo salar do Atacama .
Depois encaminhamo-nos para as "lagunas altiplanicas". Arrancámos a horas decentes e começamos a subir as montanhas que estão a Este de San Pedro, na direcção da cordilheira dos Andes. Subimos até cerca de 5200m de altitude, perto do sopé do vulcão que faz fronteira com a Bolívia e debaixo de um frio de rachar cai-nos o queixo... a vista era extraordinária... À nossa esquerda estão 4 vulcões alinhados, o mais perto com cerca de 6200m. À nossa frente temos uma lagoa de um azul que não tem discrição com a cordilheira como pano de fundo e junto à agua a areia é branca. À esquerda temos novas montanhas... É verdadeiramente impressionante.
As imagens falam por si...
6º Dia
No nosso ultimo dia no deserto decidimos ir às termas de puritama que ficam a cerca de 30kms de San Pedro. A Claudia, menina da agência que acabou por ficar nossa amiga recomendou-nos fazer a estrada de volta de bicicleta pois era "pura bajada" com muita adrenalina e assim fizemos. Neste dia tivémos a companhia da Kine, uma chilena que ficou nossa amiga. Apanhamos um taxi (com as bicicletas) para as termas e no caminho Kineret diz-nos para irmos para as termas de puripobre. Basicamente é o mesmo riacho de água quente mas um bocadinho mais abaixo, num sitio totalmente selvagem e onde não há um turista. Aceitamos prontamente a ideia e quando lá chegamos começamos a ouvir o forte barulho da água mas acontece que estava no meio do matagal. Depois de desbastarmos a selva durante um bom bocado, ficamos a disfrutar um bom banho de água quente (33ºC) num contraste entre a água e o deserto...
Por fim iniciamos a nossa descida rumo a San Pedro, o oásis no meio do deserto do Atacama. É verdade que o deserto já nos tinha habituado a vistas onde nos sentimos mais pequenos que formigas naquela imensidão de areia, rochas, montanhas, vulcões, pedras. Estradas que não têm fim, povoações perdidas no meio daquela vastidão... As paisagens vão alternando entre materiais e cores diferentes, à nossa esquerda a Bolívia, em frente, ao longe a Argentina. Que paz este percurso de bicicleta. De onde estamos temos uma vista de cima para o deserto do Atacama e podemos identificar grande parte dos sitios nos quais estivemos, pelos menos as suas direcções. Que delícia reviver as diferentes paisagens, momentos e personagens com as quais nos cruzámos ao longo do caminho.
No fim do dia apanhamos o avião para Santiago.
7º Dia
Visto que me sobrava um dia em Santiago e tanto o Jorge como o Frederico tinham aulas e a Mafalda estava em grandes estudos, apanho o autocarro para Valparaíso. No caminho conheço dois estranjas, um de El Salvador e outro da Nicarágua. Nesse dia acabamos por visitar Valparaíso e Viñas del Mar. Valparaíso é património da humanidade da UNESCO e é uma cidade construída em nas colinas em cima da baía. Tem um grande porto industrial e as casas são pequenas e de todas as cores. É como se fosse uma cidade de dois andares com vários elevadores antigos (fazem lembrar o elevador de Santa Justa) a transportarem as pessoas.
Na vila vizinha de Viñas del Mar, existe um pardão ao longo do mar, tem muitos jardins e palmeiras e também dá para a Baía. Faz lembrar o Estoril mas sem a linha do comboio. Vou almoçar com os meus amigos a um restaurante mesmo em cima da praia. Peço salmão grelhado, o prato mais banal do Chile mas para mim é como se fosse o prato mais luxuoso do mundo pois há já bastante tempo que não como peixe.
Acabo o dia a jantar com o Frederico e o Jorge num restaurante Peruano e no dia seguinte volto a Buenos Aires, volto a casa... chegar a casa e contar a viagem e mostrar as fotografias à malta cá de casa. Já nos habituámos a viver uns cons outros e sabe bem voltar para ao pé deles...
Foi uma viagem inesquecível e agradeço aos meus dois anfitriões e sobretudo, bons companheiros de viagem. Vejam no blogue deles (http://santiagoem3dias.blogspot.com/) o relato desta viagem com outras fotografias.
Beijinhos e Abraços,
Federico
P.S. - Ainda tinha mais umas 15 fotografias para por mas o blogue não me deixa e já esta a começar a fritar por isso fica assim. Se alguém quiser alguma informação sobre hostel ou excursões no Atacama não hesite em mandar-me um mail.
6 comentários:
Grande descrição da nossa primeira viagem juntos e espero bem que não seja a última... Gostei especialmente da tua descrição do pisco e da descrição ou ausência dela da noite de Santiago. Houve aí alguma falha de memória?
Grande abraço da malta transandina
Estes relatos ainda me fazem mais pena por não ter ido! Infelizmente tinha vários compromissos universitarios e se a viagem fosse hoje já poderia ir... Espectacular relato.
Deve ter sido um espetaculo, de meter inveja a qualquer um! uma pessoa deve se sentir mesmo pequenino ai no meio! espero que esteja a correr tudo bem ai. Grande abraço Sebastião Lorena
Paisagens lindas. Adorei o relato!
Beijinhos e óptima continuação de Erasmus.
grandes fotos do deserto.. muito parecido com o uyuni (acho que é mm igual a excepçao do deserto do sal)...as lagoas entao acho que passei por la no lado boliviano..
bastantes saudades da voltinha que dei por essas tuas bandas..
grande viagem nigra.
Grnd nigra, quero agradecer-te por esta meia hora (mais coisa menos coisa) que me estive a deleitar com as tuas descrições e fotografias.. não fazia ideia que havia lugares assim neste planeta.. ABSOLUTAMENTE FANTÁSTICO!
Un grande abraço
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